quinta-feira, 9 de abril de 2009

Apresentação

“Não se pode reduzir a escrita a um registro da fala”, Pierre Lévy, em O Que é o Virtual?

Em 2008, uma nova conta foi aberta no Twitter. Era a vez do micro-blogging reinar perante ao MSN, Orkut, YouTube, Blogger, WordPress, MySpace ou Linkedin. Se a vida ocasionou o trabalho de edição sempre presente no bico da pena, os 140 caracteres não causariam estranhamento. O labor na dinâmica plataforma é, ao contrário do tipo-limite, instigante.

São duas as características marcantes, a exemplo de outras propostas em social media, que a priori compõem a base do Twitter: a mensagem e a rede. A primeira traz consigo toda a virtualidade que o texto encontra no seu próprio desdobramento dentro do contexto digital – com sua possibilidade infinita de transformação. Quanto à segunda, nas palavras de Tapscott e William, ao citar Boyd, são nas redes sociais que as pessoas estão “enfrentando questões tais como status, respeito, fofoca e confiança.”

Atualmente, não se considera haver algo de errado quando um adolescente de 17 anos possui mais de 1 mil amigos conectados ao seu perfil do Flickr, por exemplo. Mas discute-se bastante a questão do status com foco na popularidade, em virtude de se tratar de uma categoria que congrega muito mais relações superficiais, ou até mesmo nulas, do que efetivamente úteis. O interesse pelo número desqualifica a conexão por conteúdo.

Independente desse quadro, a oferta no ciberespaço de uma base importante de formação e aprendizado das regras de vida social é uma constante.

Quando conceberam o livro Wikinomics, a dupla da New Paradigm não conhecia, mas imaginava, o Twitter. Este site indecente cuja identidade remete ao fusca do seu Agenor, à calcinha da Gabriela ou à geladeira Electrolux, ou GE, não me recordo bem, que meus pais tinham em casa quando eu ainda era criança. Pelo menos, essa foi uma das minhas primeiras impressões cromáticas em relação aquele azul adotado em fundos, pássaros, galhos e baleias.

Um pouco antes do Carnaval deste ano iniciei efetivamente as twittadas (até então, não tinha entrado no pique). Foi um caminho divertido, contudo, tortuoso e obscuro. A rede já estava consolidada no Brasil, mas seus participantes não pregavam o diálogo solidário com leigos curiosos – o que, ao meu entender, destoa o conceito de código aberto. Pelo contrário, delegavam a si o direito de não explicar que diabos se fazia com “What are you doing?”

Contratado para realizar um job como Analista de Redes Sociais, as mangas da camisa não foram poupadas – arregacei-as. A empresa, através de seus privilégios, sabia que o Twitter havia chegado nas redações da grande mídia, era questão de dias, ou de horas, a notícia ganhar as massas. Sem base para se posicionar diante essa realidade, queria uma descrição completa da ferramenta: como montar um perfil, o que atualizar, como reunir seguidores, administrar, apps, comercial, enfim, do que se tratava a nova febre da internet.

Em meio a tantas empresas disponíveis, contemplaram-me com a tarefa de esmiuçar o ambiente sugerido e de fornecer todos os dados capturados com precisão, independência e, o mais importante, com questionamentos. A ressalva, contudo, era a de que o perfil não fosse #fake, nem “comercial”, tinha que ser particular e real.

Organização, devo confessar desde já, não está entre as minhas principais habilidades, mas isso foi sanada com ajuda extra. No entanto, minha tarefa era passar 30 dias no Twitter, avaliando todo o fluxo de usuários e observando com cuidado o comportamento dos mesmos.

Fui intruso, fui educado. Fui fuçador, fui recatado. Fiz de tudo um pouco. Cerca de 16hs por dia. Construir um largo contato e um feedback muito positivo com os estrangeiros surgiu como o primeiro resultado. O inglês parco e detestável nos mal traçados tweets não criou barreiras, e a conexão alastrou-se por norte-americanos, canadenses, belgas, holandeses, australianos, entre outras nacionalidades. Em contrapartida, cada investida numa aproximação com brasileiros resultava 80% em desafetos, malcriações e desrespeito por parte do contatado.

O problema não era eles, sou eu. Sob os raios mortais da insegurança, o ser humano sente-se ameaçado, constrói a blindagem. Quem tem cool, tem medo. Por isso, não repreendo ninguém, nem me atrevo a direcionar-lhes qualquer crítica que seja. É importante salientar, e pouco se fala nisso, que nas redes sociais – assim como na vida real – você ganha e perde contatos, faz e desfaz amigos, agrada e desagrada pessoas. Esteja preparado: é impossível agradar gregos e troianos.

Meu ofício era um paga-pão. Era B.I. (business intelligence), um negócio. Dei a cara à tapa, pois acredito que, bem ou mal, quando se tem um perfil real em qualquer rede social a resposta é mais concreta. Se a procura era por informações estratégicas, não havia dúvida de que os dados mais preciosos viriam com muita dificuldade. Mergulhar em águas profundas. Eis a ênfase que Lynch adotou em seu último compêndio de notas e meditações. Em águas rasas estão os peixes menores, os grandes estão lá no fundo, nos ensina o grã-mestre do cinema/multimídia contemporâneo.

No dia 09/03/2009, o Estadão trouxe a matéria “Twitter reúne diferentes aspectos da Internet”. Uma extensa cobertura sobre o tema, a primeira do gênero na grande mídia brasileira. A partir dai, o Twitter sofreu uma invasão de novos usuários. Nomes populares como @rafinhabastos, @interney e @vitorfasano se tornaram, uma vez já não fossem, verdadeiras celebridades. Em seguida foi a Folha de São Paulo/UOL e, então, a plataforma deixou as capas de revistas especializadas para entrar com força total na casa, e na privacidade, de todos os brasileiros.

Finalizei as minhas abordagens, pesquisas com seguidos e seguidores, e experiências em conteúdo por volta do dia 20 de março. Exausto, macambúzio, cansado, retornei ao Twitter apenas dias depois para refazer algumas consultas e continuar mantendo o meu perfil. Pois agora, finda a tal questão profissional, vou usá-lo simplesmente como um comunicador pessoal.

Ao entregar, no entanto, aquele arquivo – se fossem papéis impressos estariam aqui chamados de calhamaços – depois de visto, revisto e revisado, considerei oportuno não deixá-lo restrito a um departamento de marketing de uma grande empresa. Temos um contrato, e tenho a ele todo respeito, sendo assim reportei toda essa experiência sem ferir quaisquer cláusulas que concordei e assinei em sã consciência.

Por outro lado, em plena era do conteúdo, abrir mão de uma narrativa um tanto quanto protéica e oportuna sobre o tema mais fervilhante do momento seria agarrar-se ao desdém do presente em apelo ao desperdício.

Na virada para o Outono, as aclamadas chuvas de março fazem subir com a poeira toda a ressaca do Verão. Meus pulmões respiram com dificuldade, além do excessivo volume de monóxido de carbono, uma grande quantidade dessa camada de impurezas. Conto as horas, a partir da primeira tosse com gosto de terra. É viral, um espirro no Metrô, como acentua Jeff Paiva nas suas explanações. Sofro desse mal, estou de cama, vou tomar meus comprimidos e sorver um chá bem quente.

Daqui por diante, tirem, vocês, as suas próprias conclusões,

E rápido.

Boa noite. #FAIL.

@zigbitencourt

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