quinta-feira, 9 de abril de 2009

Capítulo 6

Radiohead e o CQC

Quando um grande portal de e-commerce entra na jogada vem chumbo grosso. A promoção do Submarino no Twitter – que sorteava ingressos para o show do Radiohead – foi um tiro certeiro. Acertou em cheio o público-alvo, foi o conteúdo mais presente nos tweets na véspera do show.

Ela não comentou nada sobre o Radiohead e isso é uma dádiva quando um trabalho exaustivo de investigação e pesquisa está em curso. Depois de um verdadeiro pé-no-saco, voltei a lembrar-me da garota. #perdao.

Não escolho meus jobs, eles surgem. Mas não é porque não tenho o direito de escolhê-los que vou deixar de torcer para que os mesmos transcorram tudo bem. E quando o alvo do trabalho é alguém, ou algo, que me dá pesar de trabalhar, realmente não é fácil. Desta forma, ficou mais animado, pois, sendo ela, uma não adoradora do referido grupo inglês, isso certamente me dispensaria de ler tweets, por parte dela, sobre o Radiohead. Não tenho nada de pessoal contra a banda, mas é que não me agrada muito super-grupos, mega-shows e ultra-sucesso.

Ela me deixar imune a essa agressão não abrandava, porém, a histeria que os fãs promoviam no micro-blogging. E, por isso, devo admitir que fui egoísta na web. No domingo, dia da apresentação, logo ao acordar, abri o iTunes e escolhi a banda It Hugs Back. Quatro garotos britânicos tocando uma mistura de Sonic Youth e Yo La Tengo, que nada tem de novo, brilhante ou inovador, mas que no universo do repeteco soa numa linha diversa ao remake do U2. Alguns anos atrás, eu não ouviria o It Hugs Back, mas conhecer as bandas independentes da “modinha” é imprescindível para se comunicar nas redes. Acreditava eu.

No ano passado, antes da explosão do Twitter, escutei uma conversa entre dois universitários na fila de uma casa de show. Eles falavam sobre o Fischerspooner, o novo disco, a produção, acho que um cover e tal. Na hora de realizarem as comparações, o “eu prefiro isso àquilo”, me senti perdido entre nomes e mais nomes, referências e mais referências, sem saber o que estavam falando. Não me lembro de quem era o show, mas não me esqueço da certeza, que nutri naquele momento, no sentido de que deveria mergulhar no universo underground contemporâneo. E a internet, claro, seria a piscina de águas azuis e transparentes.

O It Hugs Back era fruto dessa nova pesquisa por sons nunca dantes escutados. E mais: Chin Chin, Peter, Bjorn and John, Department of Eagles, The Concretes, Anni Rossi, From Monument to Masses, MGMT, Women, High Places, iLiKETRAiNS, Deerhunter, Atlas Sound, Lotus Plaza, e até gente mais conhecida como Cibo Matto e Stereolab. Quanto aos tupiniquins, eu sempre acompanhei mais de perto em shows e outras aparições, sejam os experimentais do SP Underground, a pauleira instrumental do Elma, o swing mash-up do 3naMassa, o frevo-rock do Eddie ou as novas incursões musicais de Carlos Careqa.

Assim me credenciei para falar de música no Twitter, mais antenado do que os satélites que a turma do mangue espetou na lama. It Hugs Back não deu certo, assim como toda a lista restante e ainda os demais nem citados aqui por falta deliberada de espaço. Não tem nada, nenhuma banda que esteja tão identificada com a trilha sonora da geração Twitter quanto o Radiohead. “Tom Yorke na praia”, “Radiohead: 9 músicas do show no Chile”, “Radiohead isso, Radiohead aquilo”.

Recordei o que Drummond dizia, “dos restos de nada algo ainda há de se restar”, quando apareceu um iluminado indicando um link sobre a opinião do jornalista Álvaro Pereira Júnior a respeito do assunto. “O show é do Kraftwerk, com abertura do Los Hermanos e o encerramento do Radiohead”.

Caí na tentação de retwittar e tecer comentários maldosos contra os garotos ingleses. Só vi o número de followers debandar em decrescência...

Se de um lado, temos o Radiohead como trilha sonora, de outro temos o CQC como referência de crítica, posição política e exemplo de comunicação (ou jornalismo como alguns preferem) – ou seja, a formação de opinião de grande parte dos usuários do Twitter tem como base o conteúdo apresentado no humorístico. O roteiro da atração é distribuído, principalmente, através do micro-blogging. Não é à toa que seus dois âncoras, Marcelo Tas e Rafinha Bastos, localizam-se no topo da lista de personalidades mais populares da Twittosfera tupiniquim, ultrapassando 20 mil seguidores cada um. Existe entre o CQC e o Pânico, outro do gênero, uma disputa, cujo primeiro outorgou a si a posição de programa inteligente. O comparativo é inegável quando se critica o CQC para um de seus telespectadores. “O Pânico, por exemplo...”.

O sucesso da trupe de Marcelo Tas só teve semelhante comparativo com o jogo de estréia de Ronaldo Fenômeno no Corínthians. Ambos, esvaziaram o micro-blogging de brasileiros. Tweets, só dos gringos. Deram-se por encerrados “os shows” eis que voltaram todos ao computador, mobiles ou touchs, a twittar. E comentando ou repetindo, é claro, o roteiro do programa – ou o retorno do camisa 9.

O fato de ser redator publicitário faz com que o apreço pela atividade seja indescritível, mas estou aprendendo que só não é maior do que a paixão do CQC, blogueiros e twitteiros por propaganda (jabá). Todo e qualquer stop do CQC é preenchido exaustivamente por reclames regados à efeitos visuais do tempo do Sílvio Santos. Não satisfeitos em transmiti-los pela televisão, também twittam o link para as vinhetas. O que nos faz acreditar que a direção da emissora esteve recentemente em Miami.

A relação Twitter x Propaganda – sim, jornalismo e os blogs já entraram para a história (ou para a Wikipédia) – é mais do que presente. @marcelotas foi alvo de uma discussão feroz na internet em razão da sua liberdade de lidar com a incorporação de parte do budget de grandes empresas, como o da Telefônica por exemplo, em troca de uma divulgação maciça da hashtag #xtreme. A Twittosfera virou os olhos, não fosse o profissionalismo e a astúcia adquiridos ao longo de vários carnavais, Tas corria o risco de ser neste momento o case que melhor ilustraria aquilo que não deve-se fazer nas redes sociais, em se tratando de propaganda.

O mesmo espírito exacerbado é fogo, desde os primórdios, na alma da blogosfera, que transforma seus espaços num verdadeiro emaranhado de banners, links, boxes, posts pagos e outros recursos comerciais.

Digo isso, porque ao clicar em um link do Twitter é para um destino como este que nós vamos. Por isso, já é piada corrente dizer que “eu só paro de assistir o Canal Brasil o dia em que eles abrirem para os links patrocinados”.

Esta é a Twittosfera brasileira que emergia sob os meus olhos: uma plataforma nas mãos do CQC e nos acordes do Radiohead. “Entrando no show”, “O som dos Los Hermanos tá ruim”, “Kraftwerk.. aff..” #comofas, “Confira as músicas do show no Brasil”, “Fã segue Radiohead em mais três shows pelo mundo”. Assim foram as horas e os dias que se seguiram. Com muito, muito Radiohead, seja nas seções #ressaca ou #saldad.

Esse paliativo eu volto a sugerir sem obséquio: não ouse falar mal do CQC e do Radiohead onde a palavra Twitter ocupar o mesma dimensão.

Ao expor e concluir a referida observação diante dos fatos mais verdadeiros e acessíveis possível a qualquer cidadão – basta recorrer ao Twitter, ora bolas –, é preciso salientar o quanto revolucionário e inovador realmente se enquadra o engajamento daqueles que dedicam preciosas horas de suas vidas à publicação de conteúdo de inquestionável relevância no micro-blogging, ao som do... Michael Jackson. #pegadinhadomalandro.

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